Na noite do dia 27 de outubro, ocorreu na Unisc o evento organizado pela Liga de Anatomia Clínica da Universidade, caracterizado por palestras e informes sobre a necessidade, a importância e a forma legal de ato caridoso/altruísta da doação do corpo em benefício da ciência e partes dele para que outras pessoas tenham vida. Sob o tema Doação de Corpos/Órgãos/Tecidos na Unisc e no HSC. Por quê? Como?, e tendo como público acadêmicos dos cursos da área da saúde, do Direito, do Cepru, da Escola Educar-se e membros da comunidade, reuniram-se na sala 101 do campus-sede 160 pessoas para falar e ouvir sobre o assunto.
A morte, que por questões culturais ou religiosas, não é abordada nas conversas do dia a dia, foi parte do conteúdo das palestras. Foi mostrado como podemos ser abnegados ao realizar o gesto humanitário da doação do nosso corpo para salvar vidas e permitir que profissionais da saúde possam adquirir uma formação qualificada para salvar vidas.
Em um primeiro momento, a professora Andréa Oxley da Rocha apresentou o programa de doação de corpos da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), o segundo do Brasil e o pioneiro da Região Sul. Criado em 2008, obteve, até junho deste ano, 72 doações e o cadastro de 412 futuros doadores. A docente ressaltou também a importância do gesto humanitário da doação, como este contribui para a qualificação na formação técnica e moral dos futuros profissionais da saúde e o quanto os acadêmicos sentem-se gratos pelas doações.
Segundo Andréa, o perfil das pessoas que fazem o cadastro para praticar este gesto é, na maioria das vezes, o seguinte: sexo feminino; acima dos 60 anos; solitárias; nível de instrução superior completo; renda superior a três salários mínimos; católicas ou espíritas; e sem apresentar doença terminal.
A segunda fala da noite foi realizada pelo enfermeiro e membro da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) do Hospital Santa Cruz, Anderson Moraes, que mostrou a atuação e a importância do trabalho da Cihdott na captação de órgãos/tecidos para o resgate de vidas ou para propiciar uma melhor qualidade de vida aos transplantados.
Ele apontou as dificuldades que a comissão enfrenta pela desinformação das comunidades em geral acerca da possibilidade de serem doadoras, bem como na aceitação do que se configura como morte encefálica. Moraes salientou que as doações só podem ser realizadas após o referido diagnóstico, o qual envolve um criterioso protocolo de testes e exames.
Em seguida, o professor do curso de Direito da Unisc, Theobaldo Spengler, discorreu sobre as bases éticas e legais das doações, destacando não somente o ponto de vista jurídico de algumas situações relacionadas a essas, mas também a importância deste assunto ser debatido nos grupos familiares e sociais. “Com isso, no momento oportuno, o desejo do doador será respeitado por todos, considerando que a legislação prioriza a vontade dos que ficam em detrimento da homologada em formulário pelo doador”, frisou.
Ao final, Spengler utilizou o exemplo de um milionário americano que disse, em entrevista para uma revista, que gostaria de ser sepultado em sua residência, dentro do seu automóvel de luxo. Como foi criticado, respondeu: “As pessoas são sepultadas com coisas muito mais valiosas que o meu carro, mas não são questionadas por isso”.
No encerramento do evento, o professor e coordenador do Programa de Doação de Corpos da Unisc, Manoel Brandes Nazer, fez uma breve apresentação da formatação do programa adaptado à atual realidade, explicando como irá funcionar e sua abrangência. Reforçou, ainda, a importância da sua implantação para a busca da excelência na formação dos futuros profissionais da saúde da Unisc e da relevância de eventos que possam estimular reflexões acerca do gesto altruísta de doar.
*Publicado por Felipe Nopes